segunda-feira, 29 de junho de 2015

Colher ou tolher

Colher é uma consequência daquilo que plantamos.
Fatores adversos podem intervir na colheita de forma a não obtermos o resultado pretendido.
Isso já foi ilustrado pelo mestre.
Mesmo na adversidade das britas, eu pude observar o crescimento de plantas entre trilhos durante minhas peregrinações na ferrovia.
O que fez as plantas brotarem ali?
O volume semeado.
Muitas sementes!
Mas o fruto colhido sempre será daquilo que semeamos.
Algumas plantas requerem cuidados e isso também foi comentado pelo mestre ao exemplificar a videira que precisa podas para ficar limpa e produzir mais.
A poda requer conhecimento e um profeta de nome Oséias alertou para a destruição de um povo por falta do conhecimento.
Uma planta podada excessivamente além de não produzir pode acabar secando. A falta da fotossíntese ou de ramos não fortalece e não havendo semeadura, não haverá colheita.
Quando usamos essa linha de pensamento na esfera espiritual, encontramos muito mais o tolher do que o colher. Bem diferente do princípio do cristianismo onde poucos versículos separam o chamado dos apóstolos ao envio para sua missão.
A enrolação para o envio atualmente passa por etapas como:
“Primeiro faremos a campanha das sete folhas da figueira, depois haverá a conferência da plenitude do enchimento,  e assim, estarão capacitados para o estudo teológico aprofundado das promessas misteriosas...”
Uma tênue forma de tolher sem colher.
Passei anos em templos sem presenciar o envio ordenado por Jesus: Ide por todo o mundo...
Tive a oportunidade de conversar com um sacerdote a respeito disso e ele com autoridade respondeu: Não aprecio pressão nem radicalismo!
Tolhidos, sem o envio, poucos anunciarão a mensagem da salvação.
Sem os mensageiros, ninguém ouvirá a mensagem.
Sem ouvir, ninguém mais acreditará.

Como alguém poderia invocar o nome do Senhor se não há quem creia nEle?

sábado, 20 de junho de 2015

Frio

Peregrinando na noite fria em Rio Negro (PR), um jovem de mangas de camisa me ofereceu sua blusa por R$ 7,00.
Evidente. Drogas.
Falei a ele de um Caminho melhor e quis encaminhá-lo a uma igreja cristã para que o vazio que o levou às drogas encontrasse a devida solução.
Conheço praticamente todas as igrejas de Mafra (SC) e de Rio Negro e numa rápida varredura, não consegui sugerir à ele, qual igreja buscar.
A comunidade evangélica L não seria adequada, pois lá o pastor é um teólogo político que conduz os membros contribuintes com diplomacia. Prioridade aos mais abastados. Mas não entende nada de jovens.  Não se interessaria num viciado.
As igrejas Q, fechadas aos sábados à noite. Chegaram ao limite das quatro paredes e dois eventos semanais. Uma delas ainda tem espaço, mas é de propriedade particular do pastor. Ele manda lá e só tem oportunidade quem o bajula. O próprio filho do pastor é usuário de drogas.
As igrejas B estavam abertas com a mesma meia dúzia de gatos pingados de 30 anos atrás. Ovelhas que não geram mais ovelhas. Estéreis.
A igreja M é comandada por dois clãs: O que é aprovado por uma das famílias, a outra veta. E assim nunca sai nada e nem entra nada. Os cuidados canônicos não suportariam um sujeito com esse perfil. Igualmente a B Renovada só tem um clã e ninguém mais tem oportunidades lá. Muito menos um usuário de drogas.
Algumas pentecostais fazem tanto estardalhaço falando em línguas e mistérios que o jovem ao participar do culto talvez imaginasse ter encontrado uma comunidade de uso coletivo da pedra. Sairia de lá sem entender nada. E de fato não dá pra entender isso.
Na comunidade A, vi um cristão de renome entrar num culto para tirar de lá um dependente para “tirar satisfações”. O fato resultou na morte do dependente, lamentavelmente.
As igrejas C e W talvez teriam alguém com autoridade para expulsar demônios. Mas algumas atitudes são sugeridas pelo diabo e a dependência química não é exatamente um demônio.

Ontem ainda o Luis me falou: Não acredito num homem falando – referindo-se às igrejas.
Ele está errado?
Realmente a definição bíblica de igreja é mais do que ouvintes gessados à cadeiras de plástico.

Mesmo desempregado, dei ao jovem dez reais, lembrando o que eu ouvi de um amigo: Dá a quem te pedir.
Além do dinheiro, dei um abraço no rapaz para expressar que Alguém ainda se importa com ele.
Ao virar a esquina me dei conta. Não perguntei o nome do jovem.
Mas lembro dele afastando-se rapidamente e colocando a blusa de R$ 7,00 para aplacar o frio riomafrense.
Lamentei não ter blusas para a frieza espiritual.







domingo, 14 de junho de 2015

Outra história de amor

CHURRASCO NOSSO DE CADA DIA



Casou com a gaúcha na certeza do gosto de saborear diariamente um bom churrasco.
Nenhum dos dois, porém, possuía experiência na arte sacra ritual do assado. Mas com o casamento, o acordo da cooperação mútua para manter a tradição e o gosto culinário;
Ele compraria a carne e cuidaria ao assar, enquanto ela proveria o sal e o combustível para a churrasqueira.
O primeiro dia, o gaúcho estufou o peito e começou assoprar para atiçar o fogo. Horas depois foi encontrado dependurado pela cintura na churrasqueira, assoprando apenas pelos fundilhos da bombacha e babando sobre o que deveria ser o carvão. A picanha foi engolida ensanguentada como um peão capturado “em passant” no lance de número 298 de um jogo de xadrez.
A euforia do segundo dia, regado à chimarrão, foi uma festa. Mas o fogo não estava eufórico...
Depois de diversas tentativas frustradas usando jornais e pequenos gravetos para iniciar o fogo, usaram álcool. As labaredas altas carbonizaram o exterior do churrasco e mantiveram o interior cru.
E assim foi o segundo dia e ninguém reclamou de nada. Afinal de contas, eram novatos.
O chimarrão já estava prá lá de lavado no terceiro dia e as brasas ainda se negavam a ajudar. Com muito jornal para iniciar o fogo, uma nuvem de fumaça dançou um eterno repertório de milongas do Borghetti ao redor da carne, mas sem aquecer. Cansados e famintos, ficou como “mal passado” mesmo. Poderia ser defumado. De qualquer forma o sabor estava desfigurado pela fumaça e mascarado pela fome.
Para garantir o quarto dia, o fogo foi iniciado com mais de duas horas de antecedência, e quase deu certo. De tanto abanar o fogo e tentar deixar o churrasco no ponto, o marido dormiu na hora de almoçar, vencido pelo cansaço. Talvez o tempero até estivesse no ponto...
O mesmo se repetiu no quinto dia e para prevenir, uma térmica de café além de duas de água de chimarrão para manter o marido acordado. Mas com tanta água no bucho, não havia mais espaço para a carne e limitou-se a um pequeno naco.
Insuficiente para concluir se estava bom ou ruim.
Na segunda semana o desânimo tirou o sabor e a euforia. Mas havia o compromisso do legado dos pampas a honrar.
Na terceira semana intercalaram dias de descanso sem carne. Apenas o chimarrão.
No segundo mês, já corrompido o honroso compromisso gaudério, adulterado com um franguinho básico, as lamentações da esposa elucidaram a situação.
 - Procurei economizar. Todo o dia eu levantava cedo, pegava o machado e cortava uma árvore fresquinha para fazer a lenha para nós...
Já dizia uma frase de para-choque de caminhão; “Lenha verde e viúva choram muito antes de pegar fogo”. (Isso só entenderão os que tem experiência em fogueira com lenha úmida de seiva)
Mesmo com a melhor das intenções, lenha verde não assa churrasco.
E assim, a vaca foi pro brejo e o frango pra panela.
À esposa, os louros da solicitude em levantar cedo e provisionar com economia.
Ao marido, o rótulo de péssimo assador e traidor das tradições pampeiras.


sexta-feira, 12 de junho de 2015

Uma história de amor

A cronologia é relativa conforme as circunstâncias impondo restrições aos historiadores.
Entre a fé convincente no Carmelo e a angústia na caverna, o cronista não ousou informar quanto tempo passou. Talvez muitos anos de silêncio de Deus tenham silenciado Elias.
De fato, não haveria livros o suficiente para descrever detalhadamente os relatos bíblicos.
Ainda mais quando a longevidade beirava a um milênio.
Seria muito difícil transcrever integralmente o diálogo no Éden incluindo as prováveis conjecturas.  
Na forma que temos para leitura aparenta ser um ataque de poucos minutos, com uma rápida vitória dos argumentos apresentados pela serpente.
É claro que ambos estavam cientes das consequências, e assim, dificilmente a desobediência da mulher ocorreu na velocidade que lemos o trecho.
Ela desobedeceu sem pestanejar?
Horas, dias ou talvez anos tenham sido empreendidos por satanás nessa empreitada até lograr êxito.
Como ainda não havia o conhecimento do bem e do mal, seria ilógico afirmar que Eva preferiu a morte a continuar com Adão pelo motivo de alguma discórdia.
Nenhum dos dois conhecia o significado da morte prenunciada por Deus por comer o fruto.
Mas sabiam da advertência divina.
Adão, portanto precisou optar entre o ruim ou o pior ante a oferta do fruto pela própria mulher: Manter a obediência a Deus e sua vida paradisíaca sozinho ou compactuar com a desobediência da mulher para ficar ao lado dela.
Analisando o ocorrido por dessa forma, concluo que esta é a maior história de amor entre um homem e uma mulher nas entrelinhas das histórias bíblicas.

E considerando as perdas, de toda a história da humanidade.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

A fuga do Inútil


As coisas não estavam muito boas na casa do patrão. Sua nova ideologia, apesar da nova atitude de bondade e mansidão, era preocupante. 
Além de ignorar a força dos espíritos ao redor, desconsiderava os favores dos deuses. Ainda mais. Havia notícias de que alguns adeptos dos ensinos trazidos por Epafras estavam sendo trancafiados.
A condição de escravo nunca é desejável. Nem a vulnerabilidade. E assim, preferiu desaparecer.
E pra não dar mole nos arredores, usou o que havia poupado no intento de comprar sua alforria e fugiu.
Deu no pé.
Deitou o cabelo.  
Se escafedeu.
Fez um risco.
Carpiu o gato.
Muitas as expressões e muitas são as direções. Alguns para as drogas, outros para os eletrônicos, hobbies, suicídio ou como Elias para uma caverna.
Mas ele preferiu ir para onde as coisas estavam acontecendo.
Roma!
O centro do império e do poder, mas onde nem tudo pode ser feito.
Entre os feitos e o imperfeito o infortúnio dos sonhos desfeitos em conceitos de direitos do centúrio.
Trancafiado entre os indesejados, uma mente brilhante iluminou seus obscuros intuitos. Algum tempo de contato permitiram entender aquilo que Epafras e depois o amo absorveram.
Havia sentido, lógica, simplicidade e atitude.
Havia vida. E vida exuberante.
Trancafiado pelas grades, porém livre de leis rituais, o judeu escrevia com dificuldade, mas com grande diligência, orientações concisas como que ditadas pelo próprio espírito do nazareno que o havia chamado.
Aquelas palavras eram vivas.
E infectado por essa vida, tomou o caminho de volta.
Um regresso com sentido e motivo acompanhado de um novo amigo-irmão.
Tíquico exalava o bom perfume da sensatez e dava o toque de alegria no mesmo Caminho. E além de cartas, levava a esperança de ser o substituto de Tito em Creta, contando durante a viagem a aventura de acompanhar o judeu da Macedônia até Jerusalém.
A volta ao amo não era definitivamente o plano original.
Mas agora havia algo mais. Um valor maior.
E entregando a carta que o judeu escrevera ouviu logo o amo iniciar a leitura:

“Paulo, prisioneiro por anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo, e da parte do irmão Timóteo, a você, Filemom...”
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